[642 coisas] Onde houver marcas também haverá histórias

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É a tarde de um dia qualquer. Ando pelas  ruas da cidade comportada por um clima agradável de inverno. Não faz frio, o sol é acolhedor e agradável. A movimentação de pessoas pelas ruas de paralelepípedos velhas que guardam uma história, é pouca. Observo as poucas casas, que nesta altura já estão em ruínas, imaginando o que poderia ter acontecido por ali. Há uma casa grande e cinza cercada por um muro com portões antigos tomados pelo mato que insistem em crescer e esconde-la. Ela me faz querer conhece-la.

Sigo meu caminho observando os prédios, estes sim predominantes na cidade. Muitos deles foram reformados, mas ao olha-los percebo sua estrutura antiga. Os apartamentos parecem ser grandes e frios e que no passado suponho que seus interiores pudessem ser escuros. Hoje sua pintura é de cor clara, posso ver pela janela entre aberta as paredes brancas de um cômodo qualquer.

Mais a frente vejo o parque da cidade. Assim como ela, muito antigo. O  portão que o cerca é tomado por folhagens que fazem  lembrar o “jardim secreto”.  Sou impulsionada a entrar ao parque. Quase como um convite do qual eu não tive chance de recusar.  Simplesmente entrei.

Logo no centro do parque há um pequeno e formidável chafariz, mas não há água saindo dele. Provavelmente essa teria sido cortada há alguns anos. Seguindo mais há frente observo as árvores que por sinal eram velhas e lindas, algumas até poderia ver sua raízes, como se quisessem sair do solo. À  esquerda se aproximam os bancos, espalhados num espaço consideravelmente  grande. Não há muitas pessoas, mas vejo que há um senhor sentado em um deles. Ele está de costas para mim, usando um pequeno chapéu preto,  e em sua mão direita posso ver uma bengala. Me aproximei.

Ele tinha a pele clara e manchadas pelo tempo. Não  era magro, mas também não era gordo. Apresentava marcas de expressões significativas em seu rosto. Sua camisa manga longa deixava suas mãos descobertas, na qual  haviam veias ressaltadas e pequenas manchas rosas. Imaginei que poderia ter histórias para contar, assim como as casas antigas e os prédios de interior escuro.

Percebendo minha presença, sou convidada a sentar ao seu lado. Como se tivesse lido meus pensamentos, pergunta se eu estou  interessada em ouvi-lo. Logo digo que sim. Ele se apresentou e seguiu a conversa contando sobre a sua infância na qual adorava ler jornais antigos afim de descobrir o que se passava nos anos que o antecederam.

Tínhamos algum em comum, pensei. Ele continuou a conversa e contou sobre um amor que teve em seu passado. Disse que ela possuía cabelos longos e escuros como os meus, e seus olhos eram cor de amêndoas doces. Sim. Amêndoas doces, porque toda vez que ela sorria seus olhos sorriam antes, eram doces e acolhedores. Foi assim que ele os definiu.

Eu sorri.

Ele continuou a contar a sua história, disse que inclusive este era o parque que eles se encontravam as escondidas. Disse ainda que o chafariz deste parque era o que ela mais gostava, ela tocava a água com as pontas dos dedos, como se quisesse conferir a temperatura da mesma, que por sinal sempre se encontrava similar.

Sua história de amor não teve o final que ambos esperavam, pois assim como Romeu e Julieta, suas famílias também era rivais. Ela acabou se casando e ele também. Ambos seguiram sua vida. Ele teve três filhos: dois meninos e uma menina. Dela não se soube e nem nunca mais viu, mas seus olhos cor de amêndoas doces, desse ele não esqueceu, e nem poderia.

Era incrível como ele contava. Num dado momento me parecia que esquecera que eu estava ao seu lado, pois as pausas eram longas como se tivesse refletindo sobre o que me acabara de falar. O sentimento era de saudade.
Dou-me conta que o  fim da tarde se aproxima e me despeço do pequeno senhor de nome Pedro. Ele sorri e agradece por eu ter ouvi-lo.

Quem agradece sou eu, senhor Pedro.

Por: Bruna Pereira

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